“O Rodolfo dos Raimundos morreu aos 27 anos”
Durante a semana, pega onda e, sempre que precisa, realiza voluntariamente os cultos das quartas-feiras na igreja local. Seu sustento vem das vendas de Cds, cachês das apresentações e contribuições voluntárias das igrejas onde toca.
“Só Jesus faz meu dia melhor/ Tu és o motivo de me sentir cada vez mais vivo/ Te chamo de pai, tu és tudo o que eu preciso/ Rei eterno e meu Deus vivo” Santidade ao Senhor
Rodolfo dos Raimundos morreu aos 27 anos”, decreta ele próprio. Ele conta que, no dia 4 de fevereiro de 2001, fumou maconha pela última vez. Enquanto tragava, dizia para o cigarro: “Você é o último”. Tinha 27 anos. Depois daquele, jura nunca mais ter usado nada. O Rodolfo dos Raimundos morreu ali.
Rodolfo é sua esposa Alexandra
Rodolfo não escuta os antigos trabalhos de sua ex-banda, tampouco procura vídeos na internet para refletir sobre o passado. Quando esbarra com a sua imagem de dez, 15 anos atrás, pendurado em um microfone, no punk e hardcore feita pelo Raimundos, não se reconhece. É como se, em seu lugar, sempre tivesse havido outro. São as mesmas características, mas outras pulsações.
“Cara, é algo muito estranho”, ele pensa, sorrindo. “É o mesmo nariz, algumas tattoos são as mesmas, mas eu não consigo me lembrar do que eu pensava. Tento imaginar o que me levou a falar aquilo.” É como se de fato aquele Rodolfo fosse outro, tal qual previsto na passagem bíblica registrada no segundo livro de Coríntios, capítulo 5, versículo 17: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas velhas já passaram e tudo se fez novo”. “É outra vida, brother”, ele decreta, calmamente. “Eu não consigo entender aquele cara.”
A última vez em que Rodolfo esteve com os antigos parceiros de Raimundos foi em 2007, no velório do pai, em Brasília. O guitarrista, Digão, o baterista, Fred, e o baixista, Canisso, apareceram para oferecer os ombros ao amigo. Desde então não se falaram mais. “O Canisso tocou comigo no Rodox um tempo. A gente sempre se deu muito bem. Não que não me desse bem com os outros, mas parece que o Digão e o Fred ficaram muito magoados”, Rodolfo lembra. O tempo, ele acredita, trará cura a eventuais resquícios de problemas, deixando claro que, de sua parte, nunca houve mágoas. “Saí por minha causa, não por causa deles. Quando falo que não gosto do meu passado, não gosto de quem eu era.”Rodolfo é sua esposa Alexandra
Rodolfo não escuta os antigos trabalhos de sua ex-banda, tampouco procura vídeos na internet para refletir sobre o passado. Quando esbarra com a sua imagem de dez, 15 anos atrás, pendurado em um microfone, no punk e hardcore feita pelo Raimundos, não se reconhece. É como se, em seu lugar, sempre tivesse havido outro. São as mesmas características, mas outras pulsações.
“Cara, é algo muito estranho”, ele pensa, sorrindo. “É o mesmo nariz, algumas tattoos são as mesmas, mas eu não consigo me lembrar do que eu pensava. Tento imaginar o que me levou a falar aquilo.” É como se de fato aquele Rodolfo fosse outro, tal qual previsto na passagem bíblica registrada no segundo livro de Coríntios, capítulo 5, versículo 17: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas velhas já passaram e tudo se fez novo”. “É outra vida, brother”, ele decreta, calmamente. “Eu não consigo entender aquele cara.”
“Tudo o que sabiam de mim era ‘Rodolfo dos Raimundos’. E aquela coisa louca... parecia que eu era aquilo. Só que eu não era aquilo, eu tinha me tornado aquilo”, ele diz. “Fiquei muito diferente do que eu estava, não do que eu era. Porque aquele dos Raimundos não era o que eu era, mas o que eu estava.” Sentado no confortável sofá do backstage, ele se esforça para se explicar. “Deus foi me transformando; ele transforma a gente de dentro para fora. Então, hoje sou diferente do que eu estava, mas não estou diferente do que eu era.” A saída de Rodolfo do Raimundos se deu uns cinco meses após sua entrada para a igreja, em 2001. E a tempestade de críticas deixou-o de guarda armada em um primeiro momento. “[À época] eu não dava entrevista, eu fazia a minha defesa. Eu estava num tribunal sendo acusado de ter traído o rock”, ele lembra, emendando uma pergunta com uma resposta. “Meu, eu não posso fazer o que eu quiser da minha vida? Não, pelo jeito não."
Banda - Rodox
Descarregando os próprios equipamentos em uma entrada lateral da Bola de Neve, em Curitiba. Ao seu lado, estão o baixista Victor Pradella, de longos dreadlocks, o baterista Anderson Kuehne “Xexéu”
Enquanto a igreja enche lá fora, Rodolfo relaxa jogando videogame no backstage. Victor, Xexéu e um amigo de Rodolfo, vindo de Camboriú, se revezam em partidas de Pro Evolution Soccer. Quando Rodolfo assume o joystick, os amigos se preparam para rir. Xexéu alerta: “Ele costuma ficar nervoso quando joga”. Com a seleção brasileira da Copa do Mundo de 2006, o vocalista enfrenta a Argentina. “O Gilberto Silva é uma velha”, solta, enquanto vê o meio-campo argentino botar na roda o brasileiro. A Argentina faz 1 a 0 e Victor e Xexéu gargalham. Mesmo com a derrota, a tensão se vai assim que o jogo acaba – depois do show, Rodolfo retoma o game e, enfim, vence os rivais. Antes de subirem ao palco, os três se juntam para uma última oração.
No show, Rodolfo intercala as músicas com mensagens: “Que a altura da nossa alegria seja proporcional à autenticidade da nossa adoração”. Ao sentir o clima favorável, após um tempo cantando o verso “Deus, vem derramar tua vida em mim”, ele olha para Victor e diz, duas vezes: “É agora”. Ali, se desfaz da guitarra e inicia a pregação, na qual repassa a sua história e aponta para os céus.
A doideira que eu cantava nos Raimundos era a doideira que eu vivia. Então, não tinha mais a cara de pau de cantar um negócio em que eu não acreditava, que eu não vivia mais. E aí, sim, entra o mérito de... por eu ter me entregado a Cristo. Porque eu comecei a viver uma vida nova, e ele começou a me transformar em quem eu deveria ser desde o princípio.”
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Fonte principal: Revista Rollingstone
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